Bolsonaro diz que prisões visam delação e evita se explicar sobre joias nas redes

Compartilhar

© Reuters

Após mais de 48 horas desde a operação realizada pela Polícia Federal contra seus aliados e o pedido de quebra de sigilo no caso das joias, Jair Bolsonaro (PL) optou por não abordar as suspeitas em suas redes sociais.

Esse comportamento discreto, contrastando com sua abordagem anterior, ocorre após a Polícia Federal solicitar a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-presidente e de sua ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no âmbito da investigação.

Durante uma entrevista concedida ao canal bolsonarista Te Atualizei, divulgada no domingo (13), mas gravada em 1º de agosto, Bolsonaro reconheceu a possibilidade de ex-colaboradores serem responsáveis, porém alegou que suas prisões têm a intenção de prejudicá-lo e forçar delações.

“Tenho dois colaboradores diretos sob prisão há três meses; além disso, há outros dois que, embora não tenham sido colaboradores diretos, continuam presos, são da ativa: o [Mauro] Cid e o sargento [Luis Marcos dos] Reis. Se forem culpados, a punição não seria tão severa quanto a preventiva que estão enfrentando agora. Um dos objetivos é induzir à delação premiada, enquanto o outro visa me prejudicar”, afirmou no vídeo divulgado neste Dia dos Pais.

Na entrevista, ele também criticou o governo Lula (PT), destacou os resultados positivos de sua administração na economia e discutiu as transferências de dinheiro por meio do Pix realizadas por seus apoiadores.

No domingo de manhã, Bolsonaro compartilhou um vídeo em suas redes sociais com imagens de familiares e uma mensagem de Feliz Dia dos Pais. “Desejo a todos um domingo repleto de momentos memoráveis!”, escreveu.

No sábado (12), ele publicou um vídeo abraçando uma criança e desejou a todos um “bom sábado”, não fazendo menção às operações realizadas contra seus aliados na sexta-feira (11).

Bolsonaro abordou as suspeitas da Polícia Federal apenas por meio de sua defesa, que emitiu uma nota afirmando a disposição de colaborar com as autoridades, fornecendo detalhes das transações bancárias do ex-presidente. A nota também reforçou que Bolsonaro “nunca apropriou-se ou desviou qualquer bem público”.

A defesa alegou que Bolsonaro “voluntariamente” encaminhou as joias recebidas ao Tribunal de Contas da União (TCU) em março deste ano, até que uma decisão final sobre seu destino seja tomada.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) republicou a declaração de defesa de seu pai e, no sábado, utilizou as redes sociais para criticar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), relançado por Lula no mesmo dia em que a operação, chamada de “Lucas 12:2”, foi deflagrada.

No domingo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, compartilhou um post relacionado às joias, reproduzindo a mensagem de um apoiador. Segundo essa mensagem, uma portaria governamental de 2018 poderia justificar que as joias recebidas da Arábia Saudita fossem consideradas bens pessoais do presidente. Baseado nessa informação, Carlos comentou: “Interessante! Existem inocentes e, bem, os outros!”.

A operação da Polícia Federal marca a fase final das investigações que podem levar à acusação de Bolsonaro como líder de uma organização criminosa.

Os alvos das diligências incluíram o general Mauro Lourena Cid e seu filho, o ajudante de ordens Mauro Cid, além de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, tenente do Exército que também desempenhou funções de ajudante de ordens da Presidência.

De acordo com a investigação, o grupo do ex-presidente enviou para o exterior, por meio de viagens aos Estados Unidos em julho e 30 de dezembro do ano passado, usando o avião presidencial, pelo menos quatro conjuntos de presentes.

Após a chegada nos EUA, conforme a documentação assinada por Moraes, “os itens mencionados teriam sido levados a lojas especializadas em venda e leilão de objetos e joias de alto valor”.

A investigação alega que os lucros provenientes dessas vendas foram convertidos em dinheiro e incorporados ao patrimônio pessoal dos investigados, sem utilização dos sistemas bancários tradicionais, com o objetivo de ocultar a origem, localização e posse desses valores.

O advogado Bernardo Fenelon abandonou a defesa de Mauro Cid. Antes de sair da defesa do militar, o advogado havia informado na sexta-feira (11) que não teve acesso aos registros, o que o impossibilitou de comentar as buscas e apreensões.

Frederick Wassef, por meio de uma declaração no domingo (13), negou veementemente participar do suposto esquema de venda de joias investigado pela Polícia Federal. Ele alegou estar sendo alvo de “fake news” e mentiras, e reforçou que nunca vendeu, ofereceu ou teve posse de qualquer joia, tampouco participou de negociações ou vendas.